sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Vamos ser francos

Meu corpo faz protesto. A cada alergia, dor, queda, ferida, ele sinaliza que precisa de um tempo, que precisa se fechar um pouco. A cabeça não pára um segundo de formar, reformar e descartar pensamentos. Estou cansada. Estou cansada.
Volto agora da paulicéia que me deixou sem palavras durante uma semana. O excesso, o belo, o indizível, o melódico, o ritmo, o olhar, a noite, o negro, me deixaram assim, tentando entender um pouco os mistérios que a vida sabe muito bem colocar na nossa frente.
I’ve just seen a face...Macca soube atingir os pontinhos mais importantes dessa vida…Paperback Writer. Apesar dos pesares, tudo faz muito sentido. Isso não é o caos, isso é a vida. Helter Skelter!
Foi depois da história dos 4 espelhos, da lente, do descartável e da revelação do filme, que percebi o quanto uma máquina, analógica ou digital não importa, tem a nos ensinar. A lente muda toda a forma de capturar o que está dado. E é isso: to mudando de lente.
Não dá, não é possível esperar de fora o que só pode aparecer aqui dentro. Faz mal, faz a gente preencher os outros de ideais que não são reais. Só é possível pensar a partir do que vem de nós mesmos. Sem projeções.
No fim das contas, fazer rima é a parte mais fácil. Viver é o que é. E é o que está posto aí. Não tem jeito.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

poesia emprestada

e se não der?
eu choro
ou continuo
no faz-de-conta?

e se couber?
me guardo
ou continuo
no faz-de-ponta?

Diego Grando e Alexandre Kumpinski

São São Paulo está aí pra aliviar um pouco.

e já diria o tão esperado Paul: Live and Let die!

bora pra Palicéia Desvaiarada, a terra dos encontros.

domingo, 14 de novembro de 2010

Vida Bolha

Hoje foi um daqueles dias que me fazem pensar: existem dias realmente especiais, daqueles que o Divino nos resolve dar de presente, ou é apenas uma questão de saber lidar com o que está posto pra gente?
Já havia combinado que iria assistir a peça de uns amigos lá nas ruínas. Eu e mais alguns amigos, que de última hora decidiram viver outros planos no dia de hoje. Pois bem, lá fui eu sozinha, fazendo de tudo pra não ficar mal. Ligo o mp3 e escolho ouvir o som do meu momento: Apanhador Só - Prédio.
Não é o prédio que tá caindo,
são as nuvens que tão passando.
Não sou eu que não tô sorrindo,
é teu olho que, lacrimejando...
É a tua sorte que não tá fluindo,
é o teu norte que tá variando.
Não é o prédio que tá caindo.
Não sou eu que tô confundindo,
é confundindo que eu vou te explicando.
Te explicando é que não faz sentido,
sentido é o pára que te papapá!
Manobrando premissas sem ver
Que o prédio não tá caindo
Vem, que as nuvens não tão passando
Não sou eu que não tô curtindo,
é teu coro que, desafinando...
Teu compasso que, diminuindo...
É tua mira que tá mosqueando.
Como isso combina com o que estou vivendo. As percepções estão muito diferentes entre nós. A comunicação está se tornando cada vez mais difícil e escassa. Não estamos mais falando a mesma língua... Bah, o que que a gente faz então?
Pois bem, fui assistir a peça. Sozinha. Cheguei lá e encontrei pessoas queridas, pessoas que há muito tempo nao via, e que me fazem muito bem! Uma sensação de bem estar começou a preencher toda aquela praça, cumplicidade contida, alegria coletiva sendo compartilhada com sorrisos e olhares sinceros.
Depois da peça procuramos um lugarzinho legal pra comer e dividir histórias, que no fim, são sobre as mesmas piras, mesmos problemas, acho que Jung e seus arquétipos universais tinham razão...
Decidimos jogar nossa preguiça num gramado de um parque curitibano. Lá fomos nós com nossa imensa vontade de comer chocolate e nao fazer nada a tarde toda. Um amigo do amigo de outro amigo, decidiu nos encontrar, com um monte de parafernálias que se transformariam em bolhas de sabão.
Após cochilos, ataques de riso, poses para a foto, divagações sobre filmes, lentes de camêras, árvores coloridas sob um ceu azul anil, odes à Frida Kahlo (é minha inspiração do momento, não tem como fugir), chega o moço das bolhas.
Bolhas gigantes, bolhas amorfas, bolhas com formato de amendoim, bolhas serpentes, bolhas crianças. O choro vem até a garganta e ali fica a observar, junto comigo, toda a beleza que um pouco de água, detergente de maçã, duas varas de bambu, um pouco de corda e uns segredinhos não descobertos tem o poder de fazer.
A simplicidade tem essa virtude de carregar consigo as maiores belezas e surpresas da vida da gente. Me senti a pessoa mais especial que eu poderia ser estando ali, junto com aquelas pessoas, dividindo aquela sensação de vida bem vivida que um domingo ensolarado, véspera de feriado tem a força de fazer. Comemos pipoca com chocolate e fomos embora.
                     Meu dia hoje foi repleto de surpresas que vieram dentro de bolhas coloridas!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

C'est la vie.

Me peguei emocionada com a profundidade da vida. Já estava deitada, ouvindo Belchior – um álbum de 74 – pensando como seria ser dessa época....o choro veio junto com o gostinho nostálgico, e me dei conta do quanto é bom viver 36 anos depois das gravações daquele disco. As últimas 48 horas (nossa estou numérica hoje) me preencheram com inúmeras recordações e reflexões...da beleza de se sentir abraçado, de tomar champanhe (champagne?) às duas horas da manhã de uma quinta-feira qualquer e morrer de rir, de degustar um Tender natalino no almoço de um quarta-feira fria e úmida. Como é doce relembrar das trocas terapêuticas entre irmãs amigas mães.
Ao mesmo tempo que lembro que nada está  resolvido e que a vida está um caos, teimo também em lembrar da alegria de ter comprado uma saboneteira verde, uma caneca de plástico amarela , um Leminski, dois tomos de Cortiço, a biografia de Freud, quatro metros de chita laranja, amarela, azul (metros de alegria e profundidade, explicaria o dicionário de símbolos), e por fim, um dicionário de francês. Caio na besteira de abrir aleatoriamente uma página e a primeira palavra que leio: Lion.   Leão.leão selvagem.lion hard....L.....Volto ao estado de tristeza e percebo logo em seguida que a vida tem dessas dualidades. Eu estou, sou ou idealizo a felicidade? Ainda não consegui entender bem o sentido de tudo isso, pois logo em seguida eu me lembro que ainda estou sofrendo, e isso dura até a próxima virada de página.
Como foi intenso viver esses últimos quatro dias. Deu tempo até de me sentir como a heroína do momento – Kahlo - e seu par - Rivera. Numa dessas experiências terapêuticas montei um mural (Rivera) cheio de imagens destacadas de revistas. Ao rever toda a composição, percebi muita coisa interior sendo externada ao mundo por meio de fotografias, desenhos publicitários, e imagens criadas por alguém que nem me conhece. Foi então que me senti meio Frida, expressando plasticamente toda a tormenta interna, embebida com muita cor e expressão. O resultado disso foi uma mistura apertada (demonstrando minha necessidade de expansão) com elefantes, uma porta aberta, um casal com máscaras de ferro, o Rio de Janeiro!, um tigre (ou seria um Leão?), um pé chutando uma bola murcha e suja, espalhando areia pelo mural todo. Tudo muito amareloembuscadealegria. Tudo fazendo muito sentido.
Termino meu dia fazendo planos. Planos acadêmico intelectuais, planos para amanhã de manhã. Será que caso ou compro uma bicicleta? Toca Novos Baianos, pra não fugir dos meus nostálgicos sonhos setentistas...água mole em pedra dura, pedra, pedra até que..
Acordei, trabalhei e na volta fui buscar minha bicicleta! Com cestinha, pra carregar meus híbridos, livres livros.

domingo, 7 de novembro de 2010

lágrimas negras...

Foi depois de sair da sorveteria hoje, descendo a ladeira com poucos e bons amigos, que, sentindo a brisa do fim de tarde de domingo, sentindo uma cumplicidade silenciosa adquirida após muita convivência, sentindo o doce subir e alterar minha amônia, que saquei o tal sentido de tudo isso. Passei horas desse fim de semana agitado pensando qual seria o sentido dessa vida. Como sair da posição de desconsolo e prostração, para uma outra, de aproveitar as circunstancias dadas. Não superei de vez, mas consegui curtir por mim mesma, deixar de lado um pouco a tristeza. Na real não foi deixar de lado...foi aprender a curtir as coisas mesmo em estado de tristeza.Vi que não adianta mesmo idealizar, ainda mais coisas exteriores a nós mesmos...Saquei que tenho que buscar estar bem comigo mesma, só comigo, não depender de ninguém e nem de seus humores inconstantes. Foi bom mudar o foco um pouco....e ver que meu sonho de tomar sorvete com alguém num domingo ensolarado, pode ser realizado....com os amigos, os verdadeiros amigos.
Taí, a simplicidade é achar graça nas sutilezas que a vida traz. Do tipo sentir o perfume de uma flor de maracujá no quintal de sua casa, ou se deliciar lendo um livro sobre Frida Kahlo e perceber que com força a gente vai longe...
Por enquanto, ouvindo Otto acredito que Tristezas são belezas apagadas pelo sofrimento....então o jeito é superar esse sofrimento! Reagir...
Ah...vou comprar uma bicicleta!