quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

mestre?

A vida nos leva para caminhos tão confusos. Nos perdemos sem perceber....e quando nos damos conta, estamos tão longe de onde queríamos estar, que fica difícil relembrar  o caminho. Reinvenções, trajetórias, mudanças. De repente estou longe daquele quintal, daquele cantinho seguro com gente amada....e me sinto perdida nesse mundo cão, mundo de construções, invenções, carreira, dinheiro, loucura, correria. A gente se perde sem notar. Aí começamos a sentir que não estamos naquele caminho que a gente queria, pretendia, sonhava. Começa a faltar luz, ficar escuro, com espinhos, sangue, luto. A gente sofre cada dia um pouco mais, por sentir que está cada dia mais longe de onde queria. Aí o corpo começa a responder, começa a pedir arrego, começa a manifestar sua falta de satisfação. Você está perdida, com medo, sofrendo, sendo empurrada para um lugar onde talvez não queira estar. Se dá conta que não tá dando conta, não porque não consegue, mas porque não quer, principalmente porque não faz sentido algum. É um forçar de barra. Um empurra e não vai. Aí surge o medo de desistir, de mudar, de voltar para onde queria, de se arrepender.
 A vida é uma constante pira, um jogo mesmo. Um estar e não estar. Um estar perdido constante. É como se não fosse daqui. Como se não se encaixasse quem eu sou do que eu faço. Me encontro nas cores, nos sons, no movimento e no tambor. Não me encontro nas discussões, reflexões, letras, palavras, textos sem fim sem fim sem fim. Na luta pelo melhor, pelo mais eloquente, pelo mais habilidoso. Ser foda e escrever muito, e saber se comunicar e saber escrever e saber falar. Aí você pensa em desistir e vem aquele medo medo medo medo do arrependimento do depois. Do quando não existir mais. Medo da dor não passar mesmo depois disso tudo. Pois ela pode estar mais interna do que imaginamos. É um medo sem fim, medo da falta, medo do excesso. 

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Sobre sentir na pele.

Tem gente que ainda insiste em criticar o dia da consciência negra, o sistema de cotas raciais nas universidades e concursos, as reflexões feitas sobre a importância da população negra para o Brasil. Isso me fez lembrar a história de vida do meu pai, que lutou a vida inteira pra tentar ser branco e no último mês de vida percebeu que era negro e que isso era bom. Só quem SENTE NA PELE é que sabe...meu pai demorou UMA VIDA INTEIRA pra construir sua autoestima. Negro, tornou-se professor universitário, estudou muito e não era menos capaz que outra pessoa. Ele aproveitou a oportunidade que teve, após sair de um trabalho escravo no interior de SP como cortador de cana. Apenas no último MÊS de vida, após uma conversa que tivemos, ele parou, pensou e disse: "Puxa, sempre quis negar essa negritude. Ela sempre me fez sofrer e ser menos que muita gente". Quando ele entrou na última faculdade em que deu aula, os professores e alunos o chamavam de "professor crioulo". Ele lutou muito, mas muito mesmo contra o racismo institucional e dos alunos e tornou-se o coordenador do curso. Foi quando ele pensou: Puxa, MESMO SENDO NEGRO consegui chegar aqui. E isso só aconteceu depois de muita conversa, de muita leitura e reflexão. É bem difícil mesmo quando você não sente, não passa por isso. E ainda tem gente que acha que o silenciamento sobre o racismo é a melhor saída. Meu pai me disse que só conseguiu se aceitar e se sentir feliz quando percebeu que o negro podia estar na faculdade, podia dar aula, que não era inferior a ninguém. E isso aconteceu graças aos vários pensadores e pensadoras negras, às políticas afirmativas e aos dias da consciência negra, que o fizeram refletir e se sentir GENTE. Não é fácil ter orgulho de sua identidade sabendo que sua avó foi estuprada por um senhore de engenho, sabe. Quando não conseguimos saber quem era e como viviam nossos antepassados, simplesmente porque eram mercadoria de algum fazendeiro desse Brasil. Chega a doer quando vemos comentários que falam que existe igualdade. Gostaria muito que existisse, luto para que isso aconteça. Luto diariamente na universidade, na rua, na arte, na vida. Luto pela igualdade, pela melhoria do sistema escolar, pela reflexão.