quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Quando me vi Sangue


Quando me vi sangue
menina era
crua nua
cheia de medos e incertezas
quando me vi sangue
não sabia que sangue era
ingenuidade de criança
achei que tinha feito coco na calça
era sangue escuro
preto terra
lama saindo de dentro de mim
13 anos – número de Nanã
minha mãe
sangue lua despontando
ancestralidade
quando me vi sangue
me vi também
moça
mulher
negra
tantas dúvidas
tantos medos
medos que ainda vejo em mim
quando me vejo sangue
por muito tempo
meu sangue era pra mim
castigo
sujeira
fardo
não sabia quanta riqueza jorrava de mim
hoje me vejo sangue
me vejo lua
lua cheia, lua nova
me vejo conectada com a pachamama
viramos uma só
um só útero
quando meu sangue lama
se junta à lama terra
sinto todas as luas sangues
que já foram derramadas
e que ainda serão
quando me vejo sangue
me vejo terra
te vejo em mim
somos um grande útero
que pulsa
sem inicio meio ou fim.