Quando me vi sangue
menina era
crua nua
cheia de medos e
incertezas
quando me vi sangue
não sabia que
sangue era
ingenuidade de
criança
achei que tinha
feito coco na calça
era sangue escuro
preto terra
lama saindo de
dentro de mim
13 anos – número
de Nanã
minha mãe
sangue lua
despontando
ancestralidade
quando me vi sangue
me vi também
moça
mulher
negra
tantas dúvidas
tantos medos
medos que ainda vejo
em mim
quando me vejo
sangue
por muito tempo
meu sangue era pra
mim
castigo
sujeira
fardo
não sabia quanta
riqueza jorrava de mim
hoje me vejo sangue
me vejo lua
lua cheia, lua nova
me vejo conectada
com a pachamama
viramos uma só
um só útero
quando meu sangue
lama
se junta à lama
terra
sinto todas as luas
sangues
que já foram
derramadas
e que ainda serão
quando me vejo
sangue
me vejo terra
te vejo em mim
somos um grande
útero
que pulsa
sem inicio meio ou
fim.