Minha primeira lembrança de racismo foi com uns 7 anos, na Kombi que me levava da escola pra casa. Eu era nova ali e era extremamente tímida. Sentei num cantinho e fiquei lá, tremendo de vergonha. A menina de olhos azuis e cabelo bem loirinho era da minha idade. Estava na mesma série, mas não era da minha sala. Ela entrou na Kombi e não quis sentar do meu lado. A “tia da Kombi” pediu pra ela se sentar, já que outras crianças precisavam entrar. Ela começou a gritar e disse que não se sentaria do lado da neguinha do esgoto. Tinha nojo de favelada. Não me lembro da tia da Kombi falar nada, nem da reação das outras crianças . Na verdade só lembro do silêncio da única pessoa adulta ali...e do buraco que se abriu em mim, vergonha e vontade de sumir. Aí com uns 11 anos lembro do dia que fui tentar me enturmar com o pessoal do condomínio que morava. Tentar ter amigos, eu que era toda tímida e vivia no meu mundo solitário da pré-adolescência. O menino olhou pra mim e disse que tinha nojo do meu cabelo, porque devia feder, já que não era liso. Disse olhando pra mim, com cara de riso. Eu que acordava bem mais cedo pra minha mãe cuidar e moldar cacho por cacho. Que ia atrás de cremes pra deixar meus cachinhos lindos e cheirosos. Essas são algumas das lembranças que marcaram minha infância e ainda ressoam por aqui. E dá-lhe anos de terapia pra gente lidar com insegurança e baixa autoestima. Quais suas lembranças de infância?
Por lentes embaçadas...
quinta-feira, 4 de junho de 2020
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017
Estado de Graça!
Vem de dentro. Lá
de dentro. É como uma viagem. Micro, interna. Macro, materna. De repente, luz! Que
transformação linda e intensa. Pra mim, tudo tem sido lindo. Pois
tudo tem sido aprendizado, rasgação, entrega. Cada enjôo, cada
quilo a mais, cada mancha ou marca. Tudo é história e geografia do
corpo, da vida, do espírito. Ser água é assim. É deixar a vida
fluir dentro de mim. Fora de mim. Ventre de mim. Me sinto loba. Me
sinto lua. Lua crescente. Brilhando cada vez mais. Emanando cada vez
mais energia e vibração. Vibrando todas as águas. Dentro e fora de
mim. Dentro do dentro de mim. O ventre é um mistério. O útero é
nossa caverna sagrada. E lá dentro, quando o ambiente tá bem
cuidadinho, com fogo aceso, água limpa, ar puro e terra úmida, a
vida brota. O broto nasce e cresce e cresce e cresce. E é lindo
cuidar dessa plantinha dentro da gente. É louco mesmo. A gente vira
bicho, vira planta. Vira o que somos. Parte dessa grande egrégora
ar-terra-fogo-água. Que viagem mais incrível tem sido essa das
últimas 13 semanas. Saluba! Eu, você aqui dentro, meu compa e seu papai
aqui fora. Tem sido puro amor, conexão, ancestralidade, diversão,
tesão, negritude. É muita luz. É o estado de Graça!
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017
Xondaro
Com você
vou pro mato
pro mangue
pro norte
Com você
faço fogo
faço mate
faço arte
Nosso caminho é vermelho
é preto
é ancestral
Quatro direções nos guiam
Quatro elementos nos unem
Um céu de estrelas nos alumiam
E água nos flui pelo mundo.
Sendo tua, sou cada vez mais minha
Pois você me inspira ser quem eu sou
Quem sempre lutei e sonhei ser.
Com você
vejo flores no caminho
caminho de terra
pé no chão
tambor na mão
amor no coração
minhas raizes acharam as tuas
se embrenharam,
se emaranharam
Teu pêlo é ninho para minha pele
Tu cariño es alento para mi alma
Caranguejo de meu mangue Nanã
Mergulhas comigo pelas águas profundas.
vou pro mato
pro mangue
pro norte
Com você
faço fogo
faço mate
faço arte
Nosso caminho é vermelho
é preto
é ancestral
Quatro direções nos guiam
Quatro elementos nos unem
Um céu de estrelas nos alumiam
E água nos flui pelo mundo.
Sendo tua, sou cada vez mais minha
Pois você me inspira ser quem eu sou
Quem sempre lutei e sonhei ser.
Com você
vejo flores no caminho
caminho de terra
pé no chão
tambor na mão
amor no coração
minhas raizes acharam as tuas
se embrenharam,
se emaranharam
Teu pêlo é ninho para minha pele
Tu cariño es alento para mi alma
Caranguejo de meu mangue Nanã
Mergulhas comigo pelas águas profundas.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2016
Quando me vi Sangue
Quando me vi sangue
menina era
crua nua
cheia de medos e
incertezas
quando me vi sangue
não sabia que
sangue era
ingenuidade de
criança
achei que tinha
feito coco na calça
era sangue escuro
preto terra
lama saindo de
dentro de mim
13 anos – número
de Nanã
minha mãe
sangue lua
despontando
ancestralidade
quando me vi sangue
me vi também
moça
mulher
negra
tantas dúvidas
tantos medos
medos que ainda vejo
em mim
quando me vejo
sangue
por muito tempo
meu sangue era pra
mim
castigo
sujeira
fardo
não sabia quanta
riqueza jorrava de mim
hoje me vejo sangue
me vejo lua
lua cheia, lua nova
me vejo conectada
com a pachamama
viramos uma só
um só útero
quando meu sangue
lama
se junta à lama
terra
sinto todas as luas
sangues
que já foram
derramadas
e que ainda serão
quando me vejo
sangue
me vejo terra
te vejo em mim
somos um grande
útero
que pulsa
sem inicio meio ou
fim.
quarta-feira, 28 de setembro de 2016
Cariño
Gosto
gosto do simples em
você
café, cheirin no
cangote
sonhou essa noite?
Gosto de tua trama
nó simples,
desenrolar
fluidez em olhos de
águia
e pureza de criança
gosto desse amor que
pulsa
livre, solto,
intenso.
quarta-feira, 31 de agosto de 2016
golpe.
Sigo embalada pelas falas de Nilma Lino Gomes hoje mais cedo: "nosso
nome é sinônimo de luta e resistência". Então, sigamos. Desafios,
conhecemos desde cedo..desde vidas atrás. Sangue no zóio, fé no coração,
firmeza na caminhada, foco nas ações. Vibro no amor, mas sinto que vem
bomba por aí, coisa pesada mesmo. Mas sei que tenho, que temos força,
temos culhão e culote pra encarar. Ninguém nunca ousou e nem ousará
tirar minha liberdade, minha vitalidade, meu asè, minha arte. Isso
carrego e protejo com unhas cheias de terra e dentes cheios de poesia e
música. Temos uma legião ancestral que nos acompanha e sopra em nossos
ouvidos a direção, as ervas, as raízes, as escolhas. Não temo, jamais
temer. Já fui queimada, enterrada, afogada, amarrada. Aprendi a voar sem
asas, sublimar, evaporar e voltar ao estado de estar. Sou água que
escorre e que penetra. sou sopro da tempestade que segue. sou salamandra
da grande fogueira. sou gota de mar profundo. sou grão de terra funda.
sei sei e cada vez sei mais viver como bicho, como pedra, como estado
bruto. sou morte e vida e morte. cheguei faz tempo e voltarei quantas
vezes for preciso.
sábado, 2 de abril de 2016
No caminho de Ita, pedra Mãe.
Do alto da montanha
tudo é muito pequeno.
Os problemas inexistem
confusões desaparecem.
A mata é quem governa.
A vida é como um sopro
de vento
na relva fresca de orvalho.
No coração da montanha
Mata virgem
Tudo pulsa intensamente
as águas jorram
dos céus, das pedras, da terra
O fogo arde
Nos raios, nas fagulhas de vida
O ar purifica
Faz as asas voarem, as folhas planarem
A terra brota
Vida, vida por todos os lados.
Lá de dentro
me vi
bem de dentro
Medos de infância
dissiparam-se nos trilhos flutuantes
soltei e deixei-me ir
embalada pela brisa atlântica.
Sob meus pés
a lama me guiou.
Lama de minha mãe,
Tiyug
Nanã
vida quente
água e terra
Firmando meu pensamento
liberando apegos
decifrando sonhos
dessa vida e das que já se foram.
A grande montanha
O grande pai
A firme mãe
Marumbi
sempre presente
potente
pedra itá
apontando rotas ancestrais
oráculo de minhas raízes negras
lembranças guarani
Protegida estive
entre seus braços galhos verdes
sua placenta água cristalina
seu colo granito lama.
Morri
E na lama me enterrei
afundei as entranhas
Expurgo.
Dissolução.
Renascida voltei
saudando o sol por trás das nuvens
abraçando o vento sussurrante
firmando os pés na raiz terra
gozando o nascer nas águas de pedra.
Xee HA'EVEte.
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