sábado, 2 de abril de 2016

No caminho de Ita, pedra Mãe.


Do alto da montanha
tudo é muito pequeno.
Os problemas inexistem
confusões desaparecem.
A mata é quem governa.
A vida é como um sopro
de vento
na relva fresca de orvalho.

No coração da montanha
Mata virgem
Tudo pulsa intensamente
as águas jorram
dos céus, das pedras, da terra
O fogo arde
Nos raios, nas fagulhas de vida
O ar purifica
Faz as asas voarem, as folhas planarem
A terra brota
Vida, vida por todos os lados.

Lá de dentro
me vi
bem de dentro
Medos de infância
dissiparam-se nos trilhos flutuantes
soltei e deixei-me ir
embalada pela brisa atlântica.
Sob meus pés
a lama me guiou.
Lama de minha mãe,
Tiyug
Nanã
vida quente
água e terra
Firmando meu pensamento
liberando apegos
decifrando sonhos
dessa vida e das que já se foram.

A grande montanha
O grande pai
A firme mãe
Marumbi
sempre presente
potente

pedra itá
apontando rotas ancestrais
oráculo de minhas raízes negras
lembranças guarani

Protegida estive
entre seus braços galhos verdes
sua placenta água cristalina
seu colo granito lama.

Morri
E na lama me enterrei
afundei as entranhas
Expurgo.
Dissolução.
Renascida voltei
saudando o sol por trás das nuvens
abraçando o vento sussurrante
firmando os pés na raiz terra
gozando o nascer nas águas de pedra.

Xee HA'EVEte.