quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Vida em profundidade

Foi assim que o ano terminou. Foi assim que o ano começou. Pensamentos velhos permeando a mente e transformando-se em sais marinhos. Reflexões novas surgindo, me envolvendo por inteira, mergulhando em mim e lavando as velhas impurezas. Não posso dizer que ressurgi das águas, mas estou sentindo-as, aproveitando-as, me limpando e me deixando levar em suas ondas. Sinto o leve bater da água cor de terra, perpassando meus poros, fazendo minha pele amolecer e meus olhos arderem. Olho para cima, vejo o céu cor azul-celeste-anil-eterno, com flocos de nuvens destacando-se, quase abraçando meu corpo. Sinto o sol tostar, dourar, enegrecer minha pele, me ardendo, me fazendo sentir viva, completa, eu. Ouço minha respiração, profunda como meus pensamentos, sinto meu coração pulsar num ritmo andante, ‘embalante’, batucando aqui dentro, e querendo mostrar o tanto de vida que pode expandir desse corpo, que já se achava desfalecido. A vida está se mostrando cada vez mais intensa, cada vez mais sincera, cada vez mais presente. A chuva acompanha meu choro, a areia me esfolia os pés, fazendo-me sentir um leve desconforto. Sinto dor, a vida me faz sentir dor, a vida me machuca, a vida me ensina.
Sozinha. Sigo sozinha. Sinto a solidão. Ser só. Estar só. Sinto-me bem. Sinto-me inteira, novamente. Sinto que estou comigo, que estou sendo, pra mim, por mim. Essa praia tão deserta mostra-se plena de vida, tão completa. O nado, o nu, a luz, a sensação. Me toco, sublimo, transcendo. Por alguns instantes, sinto-me voando... planando sobre tudo isso.
Aos poucos retorno ao mesmo velho mundo, com as mesmas velhas coisas. Sinto-as com outra densidade, outra intensidade. Vivo, vivo de verdade. Minha lente analógica me fez mudar o foco, acertar a luz, e eternizar momentos singulares que levarei comigo nessa nova caminhada. É o ciclo. Renovação.





‎"O sol, o mar, os corais; você merece - eu disse -,
            depois de tudo o que passou. Deixe os mergulhos submarinos
                          lavarem todos os velhos resíduos". (Philip Roth em O Avesso da Vida)

Nenhum comentário:

Postar um comentário