segunda-feira, 30 de junho de 2014

Luana Carlana de Almeida Barbosa, presente!

Eu e a Lua nos conhecemos no fim de 2006. Quando nos vimos pela primeira vez, já sabíamos que se tratava de um reencontro. Eu estava com minha mãe e ela com a mãe dela. Anos depois nossas mães comentaram que nossos olhos brilharam quando nos vimos. Passamos a cultivar uma linda e intensa amizade. Estudamos teatro juntas e vivíamos o tempo todo grudadas. Ela foi minha dupla de palhaça – eu era a Tulipa e ela a Doriana, foi minha parceira de trabalhos, eu fui a Mônica e ela o Eduardo e apanhamos muito das crianças numa festa de aniversário em que fomos palhaças. Prometemos cuidar uma da outra, não importasse a condição. Ela me chamava de Nê e gostava de pinguim e pimenta. Quando terminamos a faculdade, Lua mudou-se para Presidente Prudente, mas prometemos continuar cuidando uma da outra. Sempre que podia eu ia visitá-la, e ela fazia o mesmo. Conheci todos os seus amigos e familiares e ela conheceu os meus. A gente dormia junto e passava a noite toda conversando e rindo. Quando meu pai morreu, Lua largou tudo e veio cuidar de mim. Lembro com muito amor da madrugada fria, a gente deitada no chão da minha casa e ela fazendo carinho no meu cabelo dizendo que sempre estaria ali pra cuidar de mim. Ela era mais nova que eu, mas muito mais madura. Sempre me aconselhava e me dava broncas de irmã mais velha. A Lua sempre fez de tudo pra ver todos os amigos bem, unidos e felizes. Ela sofria com a gente, ria com a gente, amava com a gente. Sempre incentivou nosso trabalho, era a madrinha do Baquetá. Tinha um sorriso gigante e lindo e olhos que transmitiam muito amor e sabedoria. Era forte, corajosa, mas ao mesmo tempo doce e suave. As pessoas se encantavam facilmente com seu jeitinho sincero, engraçado e suave. Era uma excelente professora, uma atriz incrível, uma palhaça perfeita, uma produtora extremamente competente e uma militante ferrenha. Em uma de nossas últimas conversas no telefone, ela me disse que sua missão na terra era cuidar dos outros, que sempre as pessoas se aproximavam dela para que ela pudesse acolher e ajudar. A Lua tinha os sonhos mais loucos do mundo, era super sensível e sutil. Um dia antes de sua partida, na manhã do seu aniversário, ela me mandou uma mensagem dizendo que havia sonhado que eu e o Pedro, que ela dizia ser irmãos de outra vida dela, havíamos chegado na sua casa, numa noite chuvosa. Na hora do almoço liguei pra ela e ela estava feliz da vida, pois tinha ganhado uma tenda para sua nova peça de teatro de mamulengo. Lua estava cozinhando e sua voz era serena e alegre. Eu disse que logo mais visitaria sua nova casa. Despedimos-nos com muita saudade. Na mesma noite não dormi direito, acordei com muita dor na barriga, uns arrepios. No outro dia o tambor no porta-malas do carro caiu de cabeça pra baixo e eu comentei com o Gui e a Mari que quando isso acontecia era prenúncio de morte. Uma hora depois fiquei sabendo. A Lua se foi injustamente, por conta do abuso de poder da polícia. Muitos já se foram por conta do abuso descabido da polícia. Quem policia a polícia? Lua, por você, pelos que já foram, pelos que irão, não me calarei. Não passará. Não passará. Não passará. Te amo pra sempre. Luana Carlana de Almeida Barbosa, presente.

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