sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Réquiem para Dega,

Ele se permitiu ir num dia de resistência. Domingo, 20 de novembro. Não havia sol, mas também não estava frio. O silêncio, o toque e o olhar denunciavam sua partida, que não era bem-vinda para nós. O último suspiro, o abraço, o sorriso. Ele cantou junto comigo – levo esse sorriso porque já chorei demais ...Ele sabia. Ele sentia. Mas não quis nos desesperar e por isso, simplesmente aceitou e se deixou levar. Em silêncio. Em meditação. Quis deixar tudo pronto para, então, ir em paz. Comeu seu último almoço – lasanha de espinafre, sua favorita. Sentou-se na varanda e olhou vagarosamente para todo o jardim. Pediu para que eu me sentasse ao seu lado e fez sua despedida velada, me abençoou e agradeceu, mas não me contou que estava partindo. Eu não imaginava que seria o último abraço, o último olhar, a última cantoria.

Seu hálito ainda passa pelo meu olfato... A lembrança do seu sorriso faz tremer cada músculo desse meu corpo fraco e confuso. Seu beijo e carinho embalam minha saudade, que a cada dia torna-se quase insuportável. Fico preocupada com ele, mesmo sabendo que está tudo bem. Está difícil continuar sem sua presença, sem suas opiniões e críticas. Estou com medo e estou preocupada. Ele se foi, em paz, sem dor, sem palavras. Tenho certeza de que me ouviu e cantou inconscientemente todas as melodias que entoei no nosso último encontro. Ele não me olhou, não sorriu. Mas sentiu e sei que me entendeu. A dor da saudade é intensa e infinita. Parece que vou sucumbir. A força vem do exemplo e da luta do meu Dega, sempre animado querendo viver.

Ele se foi porque tinha que ser assim, e me ensinou a ter forças para sempre seguir em frente. Agora preciso ir, com meus próprios pés e mãos. Tenho casa, mãe, quintal, fusca e muita história para cuidar. Paizinho, sinto sua falta. As fotos me fazem lembrar dos nossos dias cada vez mais bem vividos. Você sempre foi incrível e nos últimos dias estava lindo, sereno e em paz, assim como os grandes mestres.

Você sempre foi e continua sendo meu maior mestre! Agradeço por todo aprendizado. Obrigada por me fazer intensa, como você sempre foi! Muito amor e luz!

Te amarei para todo o sempre...meu eterno Dega.

02:43h – 18/12/11

domingo, 4 de dezembro de 2011

fé?

Não dou conta mais de conviver com gente intolerante. O preconceito e a discriminação são escrachados, são consentidos, são friamente pensados e discutidos. O papo sai fluentemente das bocas hipócritas cheias de um ego que não cabe em si. Apóiam na religião a ignorância aprendida e encrustada alienadamente na cabeça vazia de pensamentos. Meu corpo se enrijece, fica tenso e duro, ao receber tanta agressão verbal num único encontro. Diferença é uma palavra inexistente no vocabulário desses sujeitos tão inóspitos e vazios. Sinto medo dos risos, dos cochichos e dos sussuros advindos da sala externa. Quero meu casulo, quero os meus, tão livres e tão cheios de vida, tão sinceros, tão intensos e tão diferentes. Quero tomar todos os banhos que puder, beijar quem eu quiser e falar o que me vir à mente, sem me preocupar com proibições, pecados e aberrações. É nessa hora que também sinto medo das pessoas, como os meus sentem. Nada por aqui é velado. Ninguém se importa se está ferindo ou machucando alguém. Suas verdades absolutas inquestionáveis cegam essas pobres criaturas tão cheias de si, e tão vazias de amor, compreensão e entendimento.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Você..

http://grooveshark.com/s/Casa+Pr+Fabricada/3TuO7A?src=5

O embalo, o abraço, o afago. Perco-me em você, nos perdemos na tarde e o tempo se perde entre tanto tato, fato e beijo. O olhar, o sorriso, o sim, o silêncio. Os pés, as mãos, o seio, o pêlo, o lábio. O olhar, o olhar, o olhar....manchado. Verde me renovando as esperanças. Marrom me confirmando o sim, o sonho. O branco no negro, e a balada balançando os corpos soltos como minhocas no cio. O bigode, o riso, a doce dor. O quente querer da entrega. Deixo-me ir, sou levada, largo os pesos e as pendências de uma vida pouco resolvida. O céu azul confirmando, os Beatles e o Pois é...”e fazer do teu sorriso um abrigo”. Cuidado, verdade, e agora, de verdade. Clareia minha vida....me aceita assim, me olha de novo e me mistura no teu mel verde e marrom...Here comes the Sun.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

frio

Tem horas que a dor é tão grande, que parece que o peito está sendo corroído, o coração se dilacera, respirar torna-se um grande esforço...o corpo enfraquece, treme, geme...o medo mistura-se ao frio. Tudo perde a cor, o chão some dos pés. O corpo está enfraquecido, sente a falta, sente o vazio. Teima em manter-se forte, mas a luta é em vão e o esforço mutila até os poros. Os olhos não enxergam o horizonte, não enxergam letras, não enxergam nada. Vontade de apenas dormir, de sumir, de me guardar. Vontade de não ter existido nesses últimos 300 dias de vida. Vontade do som, do olho fechado e do repouso. Vontade da não vontade de estar aqui. Silêncio.