domingo, 7 de agosto de 2011

Alteridade virtual

Acordei um pouco à flor da pele, um pouco não. Um pouco triste e um pouco feliz. Um pouco sentimento e um pouco razão. Quis compartilhar, mas não havia ninguém por perto com quem eu pudesse trocar essa dicotomia de sensações. Hesitei, mas acabei ligando o computador. Cansada da rotina virtual, do saber da vida de todo mundo no sentido mais literal possível, fui atrás da subjetivação. Procurei meus amigos através de suas palavras. Li, reli, chorei, e me bateu uma vontade de juntar todos, poucos, e abraçá-los, beijá-los, passar horas conversando, rindo, chorando, trocando um pouco da dor que cada palavra carrega. Não estou sozinha, não tenho sentimentos e sensações exclusivos. A vida é hostil, e não estou sendo autopiedosa e todas essas coisas. É fato. Falta. Não sabemos lidar com tanta bestialidade, com tanta pancada na cabeça. Vivemos de amor, vivemos de arte. E nos aliviamos em palavras, que nos ligam as mesmas sensações, mesmas decepções, mesmo que virtualmente.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Gélidas reflexões

Dia sublime. Dia irônico. Dia de reflexões. Começou tarde e gelado, mas assim que saí da cama, comecei a refletir e aprender muita coisa. “Estou virando gente grande”, pensei, ao sair de carro, pagar a conta e fazer compras no mercado. Nunca tinha feito compras sozinha. Nunca havia estado tanto tempo sozinha. Um pouco deslocada, deslizei pelas gôndolas do supermercado. Como é difícil escolher as frutas e verduras certas, como é difícil tomar decisões. Não era mais brincadeira. Não era mais o jogo do faz-de-conta dos sete anos, no qual a gente sonha em ser adulto e decidir por si só. Agora é pra valer. Se vira nessa vida frenética que está posta pra você. Retornei na parte das frutas pelo menos três vezes, um pouco confusa, quase agitada, mas tomada por uma sensação de ‘sou dona do meu nariz e decido por meus atos’. Comprei as vagens, ricas em fibras e a beterraba, única, que me rendeu uns cinco minutos de escolha. Troquei o branco pelo integral, e o doce pelo saudável. Agora cuido de mim. Agora tenho que dar conta de mim. Paguei com meu próprio dinheiro minha primeira compra. Um marco pra mim. Tenho aprendido muito nesses dias de solidão e solitude. Tenho pensado mais, tenho sentido menos medo e mais angústia. Mais calma e menos vazio. Mais falta e mais sentido. Engraçado e triste, como a maioria das coisas da vida. A arte do encontro continua me seduzindo, os encontros, tão lindos, tão importantes, tão coloridos no meu dia cinza. O ataque de riso, que há muito não aparecia, veio com tudo, assim como o frio escrachado curitibano. Ri, amei, troquei, abracei. Alteridade é algo incrível, mais importante do que eu imaginava. O dia terminou com, novamente, reflexões. Insustentável Leveza do Ser? Movimento. Mudança. Vazio. Não sou só eu que estou nesse caminho. Outros compartilham comigo o ser, o não ter, o não ser, o querer. Mudanças, que venham de vez. Que inundem minha vida assim como o ar gélido que entra em todas as frestas possíveis.



Pra terminar, olhei pro céu e vi uma lua imensa, sorrindo, aquele sorriso amarelo, aquele sorriso irônico, sacando tudo o que tá rolando por aqui. Sorri.