domingo, 26 de dezembro de 2010

navidad

Natal. Noite convencionada como o nascimento de Cristo-Jesus-Messias. Vidas que passam meses, trimestres, semestres sem sequer trocar um telefonema, trocam agora frases feitas, abraços de plástico, mostrando toda sua original falsidade. Estou ligeiramente irritada com toda essa superficialidade. Máscara-aparência-convenção. Não estou mais para esse tipo de conduta. Sinto falta da sinceridade, das conversas de verdade, das trocas de olhares que não precisam muitas vezes de nenhum complemento verbal. Do pé no chão, da comida servida sem muita frescura, da dança e expressão corporal sendo manifestada livremente, sem censuras, sem proibições.
A CADA DIA ESTOU MAIS SOZINHA. A cada reunião sinto-me mais perdida, um tanto quanto deslocada. Não queria estar aqui (escrevo enquanto as pessoas dizem feliz natal). Não queria sentar em panos verdes e vermelhos, com luzes douradas piscando, camuflando a real falta de sintonia que está pairando cada pessoa aqui presente. Não queria sentir esse vazio. Não queria estar pensando tanto.
       hoje à noite
lua alta
       faltei
e ninguém sentiu
      a minha falta”
    (Paulo Leminski)


sábado, 18 de dezembro de 2010

deixe(m) minhas folhas voarem

eu caminhando na rua, olho um coqueiro, lembro-me de praia, mar, pele, riodejaneiro. os fios de eletricidade, que vinham em primeiro plano me deram a impressão de que o coqueiro estava amarrado, preso, incapacitado de ser. me senti como ele. sou um coqueiro amarrado por convenções, pessoas, situações, que estão me impedindo de ser. continuo olhando a imagem e vou além. sou o coqueiro, mas também os cabos-fios. eu quero lançar minhas folhas ao vento, mas sou capaz de me prender, de me impedir de ser. essa é a mais difícil das convenções. entender a profundidade do "eu mesmo". aceitar. transgredir. permitir.
continuo caminhando. imagens também estão me inspirando.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

anaLógicamente

Dual                                 Multifacetada                                   Clivada
      Dúbia      
                          Duas                  Polissêmica             Plural
          Heterogênea                                           Dicotômica

                                                                                                                    enfim.... confusa.

tenho agora uma câmera analógica que irá me tirar dessa virtualidade digital...
               É para adquirir sensibilidade, dizem.
                                                              

domingo, 5 de dezembro de 2010

....ainda chove, mas já vejo a ilha.

Engraçado....eu ando agora com um caderninho na bolsa, pra quando bater a vontade, descarregar todas as sensações em formas de palavras escritas. Eu tava lá, sentada naquele banco amarelo, de uma faculdade amarela, com um vestido amarelo....tentando lidar com os tapas na cara recém recebidos. Decidi escrever sobre aquilo, sobre aquele fim, sobre aqueles fins. Na cabeça veio a frase “acabaram-se as linhas do meu caderno. Agora começo a escrever em um novo”. Escrevi e fechei o bloco de notas, para retomá-lo mais tarde. Agora aqui, olhando esse dia cinza chuva mar, abro os escritos, e qual não foi minha surpresa ao ler o que escrevi “APAGARAM-SE as linhas do meu caderno. Agora começo a escrever em um novo”. Como assim? Quem te deu o direito de apagar o que eu queria acabar? Não é justo, não faz sentido. Mas, aconteceu. Ainda to mergulhada aqui embaixo da poça d’aguachoro, e ainda não quero sair. A raiva misturou-se ao medo e ao preto e branco que não quer deixar outras cores invadirem (nem o amarelo). Busco desesperadamente letras, letras que possam me reconstruir, que possam me sustentar, que possam me fazer subir de volta à margem. E as letras que surgem, surgem pra mostrar a realidade na qual estou: água, mar, chuva, barco, ilha. Ilhas-barco, chuvas-mar. O que significa tanta água mesmo?
“Tudo, aliás, é a porta de um mistério
                               Há razões e rasões
                                               Viver é impossível”  (Guimarães Rosa)


“A Ilha Desconhecida fez-se enfim ao mar, à procura de si mesma” (José Saramago)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Chove...

“Como nos esvaziamos do próprio sangue, dizia consigo mesma, estou me esvaziando das minhas lágrimas... Lágrimas, negativo fotográfico do sangue. Mesma coisa, no fundo. Derramamento, fluidificação das palavras, do corpo. Liquefação dos ferimentos que não cicatrizam. Se não nos endurecemos, derretemos...”
Noites mal dormidas, banhos de chuva mal tomados, banhos frios de chuveiro, falta de força, cãibras e contrações que me machucam os músculos... Estado nublado de vida, está chovendo lá fora. Está chovendo aqui dentro. Não estou sofrendo, estou vivendo, vivendo intensamente, vivendo essa tristeza. Fortalecendo o corpo fatigado, cuidando da ferida inflamada, cheia de pus. Aos poucos, estou descascando, deixando a pele nova aflorar sobre restos podres. Ao mesmo tempo que tento fugir e me refugiar de ti e talvez de mim, estou tendo que te enfrentar, que lidar com essa necessidade maluca que temos um do outro.
Todo esse filme-vida mergulha  nas poças d’água que estão se formando ao meu redor. Choro pelos meus queridos, choro por quem nem conheço, choro por mim, choro por alguém. Choro com os olhos, choro com os poros do meu corpo, com os furos, choro com os canais que irrigam toda minha estrutura.
Estou cumprindo bem esse lado peixe de minha existência... estou vivendo um mundo submerso, descobrindo um navio naufragado e seus destroços aqui de baixo...
ainda não está na hora de subir...
'As duas Frida'
            citação e imagem de Frida Kahlo, feitas quando ela sentia o mundo como eu o estou sentindo.